sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Hoje, o retorno de ontem IV

Por: George Huxley

O sol sempre nasce do mesmo lado, o despertador toca e os meus olhos se abrem em direção ao relógio, vejo uma imagem fixa marcando 6:45. Fico pensando: quando esse artefato esquecerá da minha existência e deixará de interromper meus sonhos? Me levanto, faço movimentos repetitivos, escolho roupa, calço meu tênis e ponho minha carteira no bolso. Abro a porta do meu quarto, caminho em direção à cozinha e, quando passo pela sala, me surpreendo: a televisão está ligada naquele canal invariável com o mesmo apresentador e suas notícias parecidas. Legal. E vou tomar aquele tradicional café com pão e margarina.

Saio de casa, e vivencio cenas idênticas aos dias anteriores. No caminho até o ponto de ônibus me deparo com pessoas iguais fazendo coisas análogas outra vez. Abrindo o portão, entrando no carro, passando na rua, levando seus filhos para escola, colocando-os na van, comprando pão fresco, varrendo a rua, esperando a carona. Dou mais alguns passos e até o sinaleiro sempre está verde para mim quando vou atravessar a faixa, e-x-t-r-a-o-r-d-i-n-á-r-i-o! Vou para o ponto pegar o ônibus para ir ao trabalho e o que eu encontro? Pessoas semelhantes, (o irmão gêmeo univitelino do motorista e até o cobrador era parecido com o de ontem), nada muda. Sensacional. Desço do meu meio de locomoção, e... surpresa! Sempre seis seres humanos descem comigo. Demais! Vou atravessar a rua e vejo as mesmas mulheres: uma, vendendo jornal no sinaleiro e a outra, tentando descolar uma grana com suas balas. Que divertido. Chego ao meu trabalho, olho aquele carro verde estacionando de ré, (normal), fico na expectativa que de lá de dentro saia algo diferente, - talvez aqueles cinco elefantes que cabem dentro de um fusca -, mas não, a porta se abre e o sapato marrom é o mesmo. Que decepção. Entro no estabelecimento que me traz asilo financeiro, e quem está naquele recinto todos os dias? Momentos de tensão. O Superman? O Lula? O Osama Bin Laden? Os Beatles? Não, companheiros de labuto. Infelizmente tenho que cumprimenta-los mais uma vez e dizer: “Bom dia! Tudo bem com você?” e a resposta é absolutamente igual: “Bom dia, tudo e você?” Incrível, todo mundo está bem todos os dias. É possível sempre estar feliz? Impressionante como nada muda.

Sinto-me caminhando sobre uma Fita de Moebius, sem final nem ponto de partida, preso no tempo, nas mesmas coisas. É como se eu acordasse no mesmo dia todos os dias. Minha nostalgia é invertida, reflete para um futuro melhor que o passado. Talvez eu deva atrasar meu relógio para ver coisas diferentes. Mas não sei se posso, tenho horário para chegar na empresa.