quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quebrando barreiras

George Huxley

Quebrando barreiras

A superação é capaz de sobrepor leis de inclusão existentes há mais de uma década.

Há 16 anos leis dão direito ao portador de deficiência um espaço no mercado de trabalho, porém é um processo que vem crescendo de maneira demasiadamente lenta. Toda empresa que têm de 100 a 200 empregados deve reservar 2% de sua vaga para pessoas com deficiência, quem têm de 201 a 500 funcionários, a cota reservada é de 3% e, para as que têm de 501 a 1.000 empregados, é de 4%. As principais ações abriram portas para portadores de deficiência com melhor preparação, deixando a grande maioria excluída do mercado. Mas a criatividade e a persistência do ser humano vêm mostrando que todos são capazes de superar qualquer barreira para ter uma vida digna sem qualquer preconceito ou exclusão.

“As coisas são processuais na vida da gente, elas não vem ao acaso, a gente tem que ir construindo os objetivos” comenta Paulo Ross, professor de pedagogia da UFPR, é portador de deficiência visual, nasceu com glaucoma congênito e começou a perder a visão a partir dos 3 anos. Diz ser a favor das leis de cotas, pois onde há carência de acesso, é preciso que sejam elaborados recursos para que se tenha uma melhoria. “Se uma gestante precisa de cuidado especial para ficar em pé, porque pode prejudicar a circulação, precisa de uma cota para a gestante ficar na fila, só pode ficar 15 minutos” citou.

Ross, enquanto cursava pedagogia, sentiu a necessidade de um apoio especifico. A falta de acessos a materiais dificultaram seus estudos, e a educação especial na época era restringido apenas para o ensino fundamental e médio sendo praticamente nulo ao ensino superior. Ele afirma que não tinha apoio de professores da universidade, contava com a ajuda espontânea de colegas que se voluntariavam a ler em algum momento se encontrassem, sem que a instituição tomasse iniciativa. “O aluno Paulo era visto como um etê, que viria uma fada mágica e traduziria todo o conhecimento em um chip que o Paulo haveria de ter na sua cabeça”,disse

Marcelo Silva Pereira de Castro é artesão e portador de autismo. Trabalha apenas com madeira, fazendo jogos, porta CD, porta cartões. Expõe seus produtos na feira do Largo da Ordem há 11 anos, conseguindo ter um bom relacionamento com o público sem que sua deficiência impedisse seu trabalho. Sua brincadeira de criança virou profissão, “meu interesse começou quando tinha 8 anos, comecei a brincar com objetos de madeira e vi numa construção pessoas usando serra circular e outras ferramentas” conta Marcelo Silva. Quando criança, seus pais passaram por grandes dificuldades por falta de informação de sua deficiência. Os médicos da época diagnosticavam que tinha deficiência auditiva, mas não convenciam seus pais, pois sabiam que ele escutava. Só na adolescência quando sua mãe estava assistindo um filme na televisão descobriu do que se tratava a doença de Marcelo. A família passou por grandes dificuldades pela falta de informação levando-o a fazer tratamentos traumáticos. “Se tivessem o conhecimento do autismo e o diagnóstico correto quando ele era criança, muita coisa teria sido mais fácil e provavelmente, ele nunca teria precisado fazer um tratamento que ele fez em SP “ comenta sua irmã Cassiana Silva Castro.

Márcia Regina Rodrigues Miranda trabalhou durante muito tempo em escolas de educação especial com deficientes mentais. Dentro das escolas observava que alguns alunos se sobressaiam em educação artística, porém era uma área que não tinha professores especializados. A partir de então decidiu fazer faculdade de artes, para suprir essa necessidade dentro da escola. No seu último ano de faculdade, criou um projeto para elaborar trabalhos artísticos dentro das escolas. Juntou um grupo de alunos da FEPE ( Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional), com problemas de comportamento, que não faziam nenhuma atividade, fazendo com que elaborassem desenhos e pinturas. “ Eu busquei dentro da escola que eles tivessem um trabalho de oficina e que esse trabalho tivesse venda fora da escola”, o resultado foi o melhor possível. Mas devido às burocracias, para que alunos tivessem uma renda partir de seus trabalhos decidiu montar um ateliê somente para portadores de necessidades especiais para que seu projeto de fato surgisse efeito. “Eles tem comissão em tudo que vendem, então vender uma barrica, por exemplo, é R$150,00 metade é deles e metade é do ateliê para bancar os materiais. Eles estão numa idade que tem que ver o trabalho deles como um trabalho profissional.” Com as vendas os alunos conseguem guardar dinheiro para comprar suas coisas. Felipe Tezza, portador da Síndrome de Down, já comprou um computador novo e algumas roupas.

Enquanto as leis e a falta de políticas públicas para o processo de inclusão seguem um caminho parcialmente lento, com barreiras burocráticas e adaptações. Existem pessoas que quebram todas as barreiras para se incluírem na mesma sociedade e serem consideradas normais. E deficiência é normal.

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